Esse mercado tem suas particularidades, mas, depois de hoje, você irá compreendê-lo melhor.
Quem já comprou um papel relacionado a commodities, como VALE3, e, de repente, viu o preço seguir na direção oposta à esperada? Tenho certeza de que isso já aconteceu com muitos de vocês.
Acompanho o mercado de commodities há muitos anos, tanto no segmento físico quanto no mercado financeiro, e sei da importância de entender a dinâmica dessa classe de ativos. Isso vale tanto para traders quanto para investidores fundamentalistas, pois o cenário pode ser semelhante em diferentes abordagens.
Para começar, é essencial destacar um ponto: embora parecidos — e essa confusão seja comum — há um ABISMO entre um papel e a commodity em si. Muitos investidores e traders buscam exposição a uma commodity específica por meio de ações de empresas relacionadas, mas nem sempre a dinâmica é a mesma. Isso frequentemente leva a frustrações e prejuízos.
É fundamental compreender que a negociação de commodities, independentemente do tipo (agrícolas, metálicas ou energéticas), gira em torno de um ponto: MARGEM. No mercado físico, produtores sofrem influência direta dos preços internacionais. Já no mercado financeiro, investidores e especuladores não estão expostos diretamente a essa dinâmica produtiva, mas precisam entendê-la, especialmente os traders.
Tenho um conselho tanto para traders quanto para investidores de longo prazo: especialização. Tenha foco em determinada commodity e, assim, consiga acompanhar o setor. Partindo disso, você encontrará melhores oportunidades.
Quero fazer algo mais direto para que vocês entendam como analiso uma commodity, um setor e um papel relacionado. Vou escolher VALE3 e Minério de Ferro, mas os conceitos técnicos servem para outras commodities e setores. Vale lembrar que cada uma possui particularidades; em outro texto, farei com PETR4 e petróleo.
Como já mencionei, analiso a parte de fundamentos, fluxo e preço. Embora as commodities não sejam ativos com fluxo de caixa, elas possuem seus respectivos cenários, e é isso que chamo de fundamentos. O investidor de longo prazo NÃO DEVE acompanhar a variação do Minério de Ferro todos os dias; é preciso utilizar a média de longo prazo. Obviamente, o cenário poderá ser alterado, com a média subindo ou descendo, mas isso faz parte do cenário macro. Partindo da média, você conseguirá construir seu modelo de valuation, buscando cenários de distorção do preço em relação à média histórica. As melhores alocações de longo prazo ocorrem quando o preço da commodity está abaixo dessa média.
Vale lembrar que a única métrica que uma empresa de commodities controla é o seu custo. No caso de VALE3, esse é um ponto essencial. Não esqueça estes pontos: média histórica e custo.
O cenário para quem é trader, buscando a valorização do ativo, carrega outras particularidades. Aqui, sim, é necessário acompanhar a variação do Minério de Ferro, pois o impacto na cotação e na execução das ordens é maior. Você conhece a curva do mercado de futuros? Deveria conhecer.
Essa curva, ao contrário da curva de juros, não é uma curva de tendência. Ela mostra o equilíbrio ou desequilíbrio da oferta e demanda da commodity. Existem dois conceitos importantes aqui: contango e backwardation.
Alinhando o cenário da curva com a sazonalidade — no caso do Minério, com a produção e o consumo de aço — você consegue se posicionar em boas tendências. O papel pode cair ou subir por outras variáveis, mas a maior PROBABILIDADE das operações está nas tendências sazonais.
Jamais confunda variáveis de longo prazo, mesmo do cenário macro, com o curto prazo. É normal ouvirmos, por exemplo, justificarem a queda do Minério ou da VALE3 com o argumento de que a população chinesa está diminuindo. Ok, está mesmo, mas isso impactará a média de longo prazo. Há um abismo entre as necessidades de curto prazo da commodity e do papel e as variáveis de longo prazo. O cenário de “desconto” dessas variáveis não é nada exato.
Antes, citei a tendência sazonal, mas a tendência de preço — alinhada com a curva — é essencial. Gosto muito de utilizar modelos de trend following para commodities e papéis relacionados: eles conseguem “filtrar” a necessidade no mercado físico, traduzindo a demanda em preço final. Inclusive, os modelos de trend following surgiram, lá na década de 1980, para acompanhar as commodities em Chicago.
Abaixo, uma lista de destaques para acompanhar no curto prazo, divididos por setor:
Fundamento:
Tendência sazonal de oferta e demanda (embarques, estoques e produção de aço)
Cenário da curva e spreads (contango/backwardation)
Preço do frete, que possui relação com a oferta e demanda da commodity
Não confunda variáveis de longo prazo com o curto prazo. Foco nas variáveis técnicas acima
Fluxo:
O cenário macro gera fluxo; alívio em variáveis correlacionadas “faz preço”. Hoje, todos os mercados são interligados, e as arbitragens e fluxos são, praticamente, em tempo real
Newsflow: esse ponto impacta demais. Uma expectativa de algum anúncio ou incentivo que aumente a demanda por Minério é rapidamente colocada no preço. Hoje, por exemplo, temos a expectativa pela volta do feriado chinês e, também, expectativas de anúncios no curto prazo.
Preço:
Lembre-se: você, na maioria das vezes, está comprando um ativo, não a commodity em si. Preste muita atenção na performance relativa do ativo em relação aos pares, tanto aqui quanto no exterior. É possível operar long x short dentro do mesmo setor, aproveitando distorções pontuais
Você está comprando um ativo em reais, mas que possui forte influência do dólar. Acompanhe, também, o valor da ação, nesse caso VALE3, em dólares
Regiões de oferta/demanda do papel são muito importantes. Perceba como o papel chegou até lá e se distorceu da commodity ou não
Papel de commodity é papel de tendência. Quando ela começa, se você não aproveitar logo — para cima ou para baixo — pagará mais. Utilize modelos de tendência
Esse ponto é o mais importante: sensibilidade do papel frente à commodity. Por exemplo, em patamares baixos, após grandes quedas, a sensibilidade à variação diminui; o mesmo ocorre em altas
Esse é o melhor “trade” a ser operado: distorções, tanto na alta quanto na queda, seguindo a época sazonal, onde a sensibilidade ao movimento prévio diminui. Isso gera boas oportunidades de reversão, com ótimo risco-retorno. No cenário comprador, também é uma boa oportunidade para aumento de aportes por parte dos investidores de longo prazo.
João Ascoli
Instagram/X: @joaoascolid
Compartilho diariamente conteúdos de mercado no meu grupo free, o link está na bio das redes sociais.
Excelente aula, como sempre…
Valeu mestre!
Boa João, Aula.. obg